domingo, 21 de outubro de 2012

Adélia Prado


A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, 
levanta a saia pra eu ver, 
amorosa e doida. 
Acontece a má coisa, 
eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar. 

Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.

(Adélia Prado - Sedução)





Domingo com Adélia Prado e Alceu Valença, estou em boa companhia.












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...não me falta casa
só me falta ela ser um lar
não me falta o tempo que passa
só não dá mais para tanto esperar
para os pássaros voltarem a cantar
e a nuvem desenhar um coração fechado
para o chão voltar a se deitar
e a chuva batucar no telhado...
Arnaldo Antunes - A casa é sua