quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Ainda Janeiro

Primeiro mês. Tá tudo errado. Tão errado que nem as flores recém nascidas nos jardins supensos me alegram. Uma tristeza grande me encharca, o sol se apagou e chove dentro de mim. Sensação de ser sozinha. Sensação de ser estúpida. As lágrimas nem se escondem. As estrelas se apagaram e tudo dói. Viver é um fardo hoje.
Sim, estou dramática, talvez seja contagioso.
Sinto tudo, sinto muito, estou viva afinal. Tenho coração.  Ele é inquieto. Ele é medroso, tão medroso que chega a ser amarelo.
E vai amarelando mais com o tempo.
De que ele tem medo? De que tudo seja verdade, que a vida não tenha volta, que sentir e amar seja algo bom, tão bom, que ele possa perder e sofrer e então, como é covarde -além de medroso - resolve abrir mão para não sofrer mais tarde. Prefere antecipar sofrimento.
E se esconder de novo. Se fechar como uma ostra.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Quando entrar Janeiro

2013. Já?
Mas como passou tão rápido?
Ando calada, mais pensativa que o normal.
As palavras estão aqui e tentam me forçar o parto, mas eu resisto. Talvez não queira que saiam, talvez não queira que brotem. Talvez. Talvez.
Ficam ressoando em minha cabeça e me sinto sendo a protagonista de um livro sendo escrito. E não é assim mesmo a vida?- alguns poderão perguntar. Um livro escrito enquanto tudo acontece, sem chance de voltar atrás? Ou é apenas influência do filme Mais estranho que a ficção?

" Sei lá. sei lá, a vida é uma grande ilusão.Sei lá, sei lá, só sei que ela está com a razão."

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(o cursor pisca me apressando...)

Talvez eu não queira admitir o que deve ser dito. Talvez eu não queira o final que está sendo escrito. De nenhuma forma.
Clarice Lispector já recusou o final em Água Viva:
"Vamos não morrer como desafio? Não vou morrer, ouviu Deus? Não tenho coragem, ouviu? Não me mate, ouviu? Porque é uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde. Vou ficar muito alegre, ouviu? Como resposta, como insulto. Uma coisa eu garanto: nós não somos culpados. E preciso entender enquanto estou viva, ouviu? porque depois será tarde demais."

Não mate nada, ouviu? Não acabe com nada, ouviu? Ou vou ficar alegre e insultar, como forma de resistência... enquanto o cursor pisca, ansioso por novas palavras, no meu intervalo de digitação eu penso. Nada é justo, e talvez essa seja mesmo a justiça. O final escrito para  Harold Crick era poético, transformaria sua vida em uma obra prima, não seria esquecido, teria sua existência justificada. Mas ele aceitou? Não. Argumentou, reivindicou. Conseguiu. Mais algum tempo, uma existência talvez medíocre, certamente medíocre, mas estaria vivo! E isso era tudo que lhe importava.

Os finais são tão difíceis! Como colocar um ponto final em uma história? Um ponto final final. Não um final de frase, parágrafo ou capítulo, o final de um livro, de um conto, de uma história. Fica o gostinho de "e depois, o que aconteceu com eles?" Resta ao leitor a imaginação. E, como estamos infectados por contos de fadas com finais felizes, a tendência é imaginar que tudo deu certo, os caminhos escolhidos levaram à vidas felizes e tudo continuou. É assim mesmo? Posso acreditar nisso? Quem pode me responder?


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(o cursor indica que devo continuar a escrever)


"Tudo acaba, mas o que te escrevo continua. O que é bom, muito bom. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas.
Hoje é sábado e é feito do mais puro ar, apenas ar.
Falo-te como exercício profundo, e pinto como exercício profundo de mim. O que quero agora escrever? Quero alguma coisa tranqüila e sem modas. Alguma coisa como a lembrança de um monumento alto que parece mais alto porque é lembrança. Mas quero de passagem ter realmente tocado no monumento. Vou parar porque é sábado.
Continua sábado.
Aquilo que ainda vai ser depois - é agora. Agora é o domínio de agora. E enquanto dura a improvisação eu nasço.
E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma hora da madrugada ainda em desespero - eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei. Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar.
O que te escrevo é um "isto". Não vai parar : continua.
Olha pra mim e me ama. Não: tu olhas pra ti e te amas. É o que está certo.
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada" - Clarice Lispector, final de Água Viva


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(o cursor/pulso ainda pulsa...)
Exausta e Exasperada.
Duas palavras com EX descrevem meu momento-já. Tão legal isso. Palavras com EX podem ser tão difíceis, tão desencaixadas... e consegui duas assim, de sopetão, pra dizer do momento que vivo.







Nota mental: qualquer vinho fica amargo após uma taça de sorvete.


...não me falta casa
só me falta ela ser um lar
não me falta o tempo que passa
só não dá mais para tanto esperar
para os pássaros voltarem a cantar
e a nuvem desenhar um coração fechado
para o chão voltar a se deitar
e a chuva batucar no telhado...
Arnaldo Antunes - A casa é sua